Sempre me senti atraída por lugares distantes.

Um céu que poderia ter tons alaranjados, vermelhos e rosa, outrora violetas, azuis e brancos, flores, de diversos tipos,violetas, margaridas ou girassóis. Tulipas, orquídeas ou apenas grama. Alguns brinquedos espalhados pelo chão colorido de doces, algodão-doce. Músicas de almas esquecidas, que deram risadas e ficaram guardadas, esperando pela ocasião certa, envelhecidas pelo tempo. O tempo ensolarado, com uma pequena e leve brisa, deixando os cabelos dourados balançarem, no ritmo que quisessem, que mais gostassem de acompanhar o andar do quadril da saia. O branco do céu que caía nos olhos, nos dentes e na roupa. Ela voltou a acreditar no amor, o mar voltou a ser confiável, suas ondas se acalmaram e ela finalmente mergulhou, estava em êxtase depois daquele dia, surpreendente, e quando se deu conta, estava vendo de longe borbulhas do ar, que se desprendia de seu corpo, que cada vez mais afundava, olhou pro lado e viu o que nunca pensou ver, um mundo sobrenatural, os peixes a rodeavam, com inúmeras sereias querendo tocar-lhe os cabelos macios e brilhantes, com golfinhos a fazendo cócegas nos pés, a luz branca era grande, cada vez aumentava mais, e como uma doce melodia ela escutava sua mãe a embalar num sono profundo. Seu maior desejo havia se realizado, estava fora daquele mundo tomado por maldades e ódio, seu coração não batia por medo, estava repleto de felicidade, de paz, de amor. Darb Al-Sad Ma red havia se tornado colorida e ao mesmo tempo branca de serenidade. O mundo havia lhe retribuído com seu sonho, nunca mais ouvirá gritos de espanto, e para sempre abençoará as almas-vivas da cela 52 e de todo o mundo.
Outro dia ouvi seus suspiros de felicidade, disse que seu nome agora é esperança, me falou que deixou os sonhos para trás, pois já achou todos os que queria onde está..

Me entende,

 eu não quis, eu não quero, eu sofro, eu tenho medo, me dá a tua mão, entende, por favor. Eu tenho medo, merda!Ontem chorei. Por tudo que fomos. Por tudo o que não conseguimos ser. Por tudo que se perdeu. Por termos nos perdido. Pelo que queríamos que fosse e não foi. Pela renúncia. Por valores não dados. Por erros cometidos. Acertos não comemorados. Palavras dissipadas.Versos brancos.
Chorei pela guerra cotidiana. Pelas tentativas de sobrevivência. Pelos apelos de paz não atendidos. Pelo amor derramado. Pelo amor ofendido e aprisionado. Pelo amor perdido. Pelo respeito empoeirado em cima da estante. Pelo carinho esquecido junto das cartas envelhecidas no guarda- roupa. Pelos sonhos desafinados, estremecidos e adiados. Pela culpa. Toda a culpa.
Minha. Sua. Nossa culpa. Por tudo que foi e voou. E não volta mais, pois que hoje é já outro dia. Chorei. Apronto agora os meus pés na estrada. Ponho-me a caminhar sob sol e vento.

Eu não leio o que eu escrevo depois de escrever,

 acho que é por isso que sempre percebo vários erros que eu nunca cometeria se tivesse escrito de olhos abertos.
Vou escrever pra você ler minhas cartas rasgadas depois que beber, vou mandar você fazer uma massagem em mim antes de dormir, e vou pintar minha sala de vermelho sangue pra lembrar de como nosso amor é selvagem. Alcoolizados para sempre, esperando o sol se por, bebendo mais e mais esperando o para sempre jamais acabar. Rindo das suas pernas enrroladas tentando o manter de pé, vou sorrir pelo resto dos meus dias pelos dias nunca vividos e vou continuar de ressaca até você voltar e me dizer que tudo já passou, que você vai existir de verdade, e que eu nunca mais vou dormir chorando nem esperando você entrar denovo pela porta pela qual nunca saiu.
Eu espero demais o dia de poder apertar você e dizer que é meu, que nada nem ninguém vai poder te separar de mim, e que eu não vou me jogar daquela ponte, que era tudo mentira e que você nunca esteve certo, como eu nunca estive errada esse tempo todo.
É eu gosto de uma boa história pra contar, mesmo que tudo seja a mais pura invenção a partir de uma carta achada e um beijo roubado.

sabe quando você não aguenta o peso do próprio corpo?

 quando as situaçãoes que te passam pela cabeça são mil vezes maiores que qualquer outra voz do lado de fora? Quando o vento gelado parece ser por alguns minutos quente? Quando tudo começa a girar e você já sabe que vai cair mas queria acreditar que alguém chegaria e tudo mudaria, e nada disso acabaria como acabou? Quando tudo o que você precisa é somente a sua cama, quando você enfim pode encostar a cabeça no travesseiro e dizer com todas as letras surradas e perdidas: acabou.
É o vício mais intrigante se desgastar todos os dias, atrás de pessoas que nem mereciam. é o dom mais inescrupuloso sair pedindo sorrisos na rua, a atitude mais incensata do milênio trocar uma pessoa por uma música mas me fez bem. São as falas mais rápidas e mais duradouras que ouro, são aqueles acordes que doem por dentro dos ossos.
É aquele velho sentir sem entender, aquele velho personagem que nunca vamos conhecer.